quarta-feira, 23 de maio de 2018

POLÍTICA

Inhambane registou 99,71% dos eleitores


A Comissão Provincial de Eleições, delegação de Inhambane, diz que, dos 322.264 potenciais eleitores previsto para recensear, apenas 321.336 foram inscritos, com uma diferença de 928 eleitores, representando 99,71 por cento. Muitos foram os factores que estiveram na origem do não alcance da meta, com o destaque para a ausência de fiscais dos partidos políticos.
Apesar deste resultado, as autoridades dão-se por satisfeitas.
Os distritos municipais da Massinga e Vilanculos foram os que mais eleitores registaram acima da meta, com 108 e 133 por cento, respectivamente

terça-feira, 22 de maio de 2018

SOCIEDADE

Mais de 200 pessoas com catarata vão beneficiar de cirurgia

Mais de 200 pessoas com catarata vão beneficiar de cirurgia
O Governo em parceria com a Doctors For Life, uma organização cristã de ajuda humanitária, que opera desde 1992, com sede na África do Sul, realiza, em Inhambane, uma campanha de operação gratuita a mais de 200 pessoas com catarata. A cirurgia será realizada no Hospital Provincial local.
A organização perspectiva estender sua actuação para o resto do país, com enfoque para os locais de maiores índices.
Com este gesto, a direcção do Hospital Provincial considera que a parceria veio impulsionar a capacidade de resposta daquele serviço devido à falta de pessoal especializado na matéria.
A província de Inhambane possui apenas um oftalmologista, três optometristas e seis técnicos de oftalmologia

CURIOSIDADES

10 Coisas estranhas da gravidez que a mulher não comenta




Gerar vida dentro do ventre da mulher é algo incrível. Para muitas mulheres a gravidez é na verdade uma das melhores coisas do mundo.
A mulher grávida tem a possibilidade de acompanhar diariamente o desenvolvimento do bebé e se emocionar a cada fase que passa. Mas, durante a gestação, existem as partes chatas, como enjôos, náuseas, pés inchados e outros.
Conheça o lado estranho da gravidez que as mulheres geralmente não comentam.

1. Que tem o olfacto e o paladar incrível

Durante a gravidez, o olfacto da mulher aumenta drasticamente, bem como o paladar. As mulheres grávidas tornam-se altamente sensíveis a odores fortes e sabores amargos. Algumas mulheres grávidas podem se tornar excessivamente sensíveis a uma fragrância de perfume ou cheiro de loção para o corpo, enquanto outras podem não ser capazes de tolerar um forte cheiro de um alimento em particular. Por outro lado algumas mulheres queixam-se dum sabor amargo na boca depois de consumir qualquer alimento ou líquido, outras podem ter uma sensação peculiar na boca mesmo quando não estão comendo nada. Acredita-se que olfacto, bem como o paladar ajudam as mulheres grávidas a evitarem o consumo de pequenos níveis de toxinas, não perigosas para um individuo adulto, mas mortais para o feto.

2. Que gravidez pode até durar um ano inteiro

Uma boa parte das mulheres tem tido uma gestão de cerca de 38-40 semanas. Quando a gravidez dura mais tempo, os médicos podem induzir o parto da mulher. Porém é possível uma mulher ficar grávida durante um ano inteiro. Conhecida como gestação prolongada pois ultrapassa 41 semanas – é a insuficiência placentária (placeta envelhecida) que reduz o aporte de nutrientes e oxigénio para o feto o que pode acarretar aumento de morbidade e mortalidade perinatal.

3. Que a mulher não precisa comer por dois

A mulher grávida não precisa realmente comer por dois, salvo em casos em que há ordens médicas específicas. Durante a gravidez, o corpo torna-se mais eficiente na absorção de nutrientes, por isso ao dobrar a quantidade de comida, a mulher não estará a aumentar as chances de ter um bebé saudável, mas sim em ganhar peso excessivo. Lembre-se que as necessidades calóricas da mulher grávida aumentam apenas cerca de 300 kcal por dia, mais precisamente, 100 kcal no primeiro trimestre e 300 kcal no segundo e terceiro trimestres.

4. Que o uso sutiã para dormir é indispensável

Durante a gravidez os seios da mulher alcançam seu desenvolvimento máximo, ficam maiores e dolorosos. O uso do sutiã na hora de dormir acaba sendo indispensável, pois as mamas estão super sensíveis à actuação dos hormônios. Como na gravidez, o peso tende a aumentar, a recomendação médica é usar até mesmo para dormir.

5. Que o feto masculino pode ter erecção dentro do útero

É inacreditável, mas o feto do sexo masculino pode ter erecção enquanto está no útero da mãe. Alguns cientistas afirmam que os bebés de ambos os sexos se masturbam no útero, mas meninos são os únicos que podem ser ‘flagrados no acto’ na ecografia ou até aparelhos de alta resolução podem mostrar esses detalhes

6. Que o pé pode aumentar de tamanho

A gravidez pode alterar permanentemente o tamanho dos pés das mulheres. Conhecida como pé chato, este problema é bastante comum na gravidez, por conta do peso extra e da maior frouxidão das articulações associadas aos hormônios. O pé pode tornar-se mais comprido e mais largo. Isso acontece porque cada vez que a gravidez avança, o corpo começa a liberar a tensão dos seus ligamentos para ajudar com o processo do parto.

7. Que a vagina pode precisar de alguns pontos

O corte vaginal que a mulher sofre durante o parto, é também conhecido como episiotomia, que é um corte cirúrgico feito no períneo (região entre a vagina e o ânus) formada por músculos. Esse processo ocorre durante o parto normal para facilitar a passagem/ saída do bebé. Após o rasgo ou laceração no períneo no momento do parto, a cicatrização costuma ocorrer sem dificuldades. Alguns rasgos só exigem um pouco de cuidado ou alguns pontos, mas os casos realmente maus vão da vagina ao ânus. Massagear a área antes do nascimento da criança pode reduzir a chance de rasgo vaginal.

8. Que as contracções não param com o nascimento

Um número considerado de mães tem contracções até os primeiros dias após o nascimento de seus filhos. As cãibras musculares são a maneira do corpo parar a perda de sangue em excesso. Porém, se você dá à luz no hospital, pode estar ainda muito drogada e provavelmente mal vai perceber o fato.

9. Que a mulher pode evacuar durante o parto

Durante o parto, a mulher pode evacuar, pois quando a cabeça do bebé passa pelo canal de parto pode comprimir o reto, parte do intestino que fica logo atrás do útero e da vagina. Quando o bebé está passando, ele empurra toda essa região. É por isso que enquanto a cabeça passa, a mulher se sente fazendo cocô. Um dos sintomas que as mulheres tem durante o trabalho de parto é a vontade de ir ao banheiro, acontecimento que, pode evitar a evacuação no nascimento ou reduzir a quantidade de fezes expelido. Isso acontece muito, mas os médicos já estão acostumados a limpar, se for necessário. Esse acto é completamente natural e muitas ou algumas mulheres passarão por essa situação.

10. Que o pai pode ter sintomas de gravidez

​Alguns homens podem ficar psicologicamente grávidos. Os homens ficam muito preocupados com a saúde da mulher e do bebé, e apesar de não demonstrarem da maneira igual, também podem apresentar ansiedade, insegurança e até medo. A condição é conhecida como síndrome “couver” significa “chocar”. Ela designa um conjunto de sintomas involuntários associados à gestação, que não têm nenhuma causa física aparente, e que aparecem em alguns homens que vão ser pais. Alguns sintomas da síndrome são vómitos, tonturas, dores abdominais e dentárias, mudança de apetite, fadiga, insónia, problemas intestinais, alteração de peso, entre outros.


quinta-feira, 10 de maio de 2018

SOCIEDADE, INHAMBANE

Seis agentes da PRM expulsos por corrupção


 comandante da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Inhambane, Joaquim Nido, disse que, do ano passado até o primeiro trimestre deste ano, seis agentes da polícia foram expulsos e outros 25 incorrem a processos disciplinares por prática de corrupção. O anúncio foi feito durante a cerimónia de entrega do posto policial à comunidade de Guitambatuno, arredores de Inhambane.
Na ocasião, o comandante pediu a colaboração da população, na denúncia de quaisquer actos que atente contra a ordem, segurança e tranquilidade públicas.
Por sua vez, a população presente no acto criticou a falta de meios que se tem observado no seio da polícia, o que no seu entender, contribui para a fraca vigilância dos agentes nos bairros, para abortar actos criminais.
Face a estas inquietações, a polícia diz estar a mobilizar recursos para alocar meios circulantes que permitam maior mobilidade dos agentes da Lei e Ordem, nas comunidades

ACTUALIDADE

Elogio a Aníbal Aleluia

Aníbal Aleluia: «Da parte paterna, só conheço a genealogia até ao meu bisavô, precisamente Aníbal Aleluia, vindo, segundo me contaram os meus ascendentes, “muito de fora”. Meu avô, Henrique Aníbal Aleluia, e meu pai, Roberto, Roberto, eram naturais de Séui (Inhambane, cidade). Eu nasci na Península de Linga-Linga. Desde o meu bisavô, eu é que quebrei a tradição de construtores barcais.»
 
Henrique Aníbal Aleluia descrevia-me, assim, a sua ascendência. Nascera em Agosto de 1921. Estávamos em Agosto de 1990. Da parte materna registava que a família remontava ao século XVI. Registei esse diálogo para um livro de entrevistas: Os Habitantes da Memória. Naquele dia, como em outras diversas ocasiões em que me atardei a ouvi-lo e a cumpliciar com ele, senti que o tempo que vivera – atravessara dolorosamente o período colonial – deixara marcas vivas e fortes. Também percebi que estava diante de um homem que soubera perseverar. Um homem obstinado. Tinha uma bondade extraordinária. Tinha uma respeitável e caudalosa cultura.
Leitor compulsivo, chegara a ler dez romances por mês quando frequentava a Escola de Professores. Observador atentíssimo da realidade. Os seus escritos nasceriam desse olhar avisado (“os meus contos nascem da observação de factos do quotidiano, um gesto, uma palavra”). Além disso, era um nómada: “calcorreei Moçambique de tal modo que vivi no extremo norte (em Palma), em Angoche (a Leste), a Oeste (Zóbuè e em Espungabera) e aqui no Maputo, que conheço desde 1935” (Aníbal Aleluia).  
Esteve para ser professor indígena (era assim que se designava!), foi enfermeiro, escreveu para jornais, foi escriturário. Palmilhou o país. Tinha um profundo conhecimento do país, eu diria até antropológico. Ainda se matriculou em Direito, contudo as adversidades da vida impediram-no de fazer o curso. Era um homem culto, uma biblioteca ambulante. Falava, com rigor, um português escorreito, culto, sem perder a sua pronúncia de Inhambane. Para além de assinar com nome próprio, Aníbal Aleluia escreveu sob diversos pseudónimos: Roberto Amado, Augusto António e Bin Adam.
Redigi, anos depois, no empolgado lead daquela remota entrevista: “Tinha eu um grande afecto pelo velho Aníbal Aleluia. Tinha igualmente um enorme respeito pela sua trajectória que foi marcada por uma corajosa persistência de um homem que sempre teimou em afirmar a sua dignidade. Era uma lição exemplar a daquele senhor que escondia na sua modéstia uma grande sabedoria porque sabia que não há Faculdade que substitua a vida.”
Não me cansava de ouvi-lo. Tinha uma história de vida exemplar: corajoso, persistente, digno. Escrevera no Itinerário e n'O Brado Africano. Chegou à ficção porque António Caetano Fernandes – uma figura do burgo lourenço-marquino – o informa de que na revista Elo havia quem “asseverasse existir um substracto orgânico que incapacitasse o negro de fazer ficção e a minha recusa é disso prova bastante.” Na época, Aleluia achava a intervenção nos jornais mais adequada ao espírito contestatário que animava a sua geração. A ficção, algo lúdico, não lhe parecia ter essa capacidade reivindicativa, era demasiado “frouxa”. A despeito, esse repto levou-o a escrever um conto. Ainda julgou ser o único. Não o foi. Entre 1955 e 1956 escreveu os contos que iriam constituir Mbelele e outros contos. Os textos permaneceram na gaveta décadas. Publicou-os à beira dos 70 anos. Publicaria ainda O Gajo e os Outros. Estão por editar Contos Avulsos e Contos do Fantástico Litoral.
Tinha um livro a caminho do prelo nos primórdios da década de 60. Retirou-o quando foi preso a 27 de Maio de 1961 pela PIDE, acusado de ser “nacionalista africano”. Diziam que “mancomunava com o Baltazar da Costa a revolta do Norte da Zambézia”, acusavam-no, delirantemente, de se encontrar com o Dr. Banda, do Malawi, atribuíam-lhe filiação ao MUD-Juvenil. Tudo invenções de “bufos do Zóbuè, na sua maioria enfermeiros.” Os contactos que ele tinha: os Democratas. Santa Rita, Soares de Melo, Ricardo Fernandes, Rainho da Silva e Bradeiro de Matos. Ele trabalhava no Foro, praticava para tirar a carta de solicitador.
Aníbal Aleluia: “Eu pertenço ao número dos que não fizeram da detenção crachá nem bandeira e muito menos gazua.”
Do vício da leitura, que lhe vinha da infância, acompanhava o que se escrevia na então emergente literatura moçambicana. Lia José Craveirinha, Noémia de Sousa, Rui Knopfli, Rui Nogar, Ruy Guerra, Fonseca Amaral, Augusto Santos Abranches. Lia Sobral Campos, Alípio Rama, António Só, Irene Gil, Glória de Sant’Anna, Augusto Conrado, Rui de Noronha. Lia sobretudo os poetas. “A prosa era monopolizada por um homem que se orgulhava de ser fascista e cuja temática colidia com os meus pontos de vista.”  
Quando eu era miúdo cultivava a prática de estar com os mais velhos. Gostava de ouvir os precatados. Visitava-os, lia-os e interpelava-os. Atraía-me a memória. Sempre me fascinou a memória. O conhecimento, a experiência, a sabedoria, a sagacidade, a inteligência. Ouvir do aviso dos que nos podiam alertar. Ouvir a história, diversa daquela que estava nos compêndios. Sobretudo num contexto em que o passado era uma espécie de oráculo. Aníbal Aleluia disse-me, naquela remota conversa, que andava às voltas com um romance histórico. Isso aguçou a minha curiosidade. Qual era a ideia central do romance? – quis saber.
Aníbal Aleluia: “Que o nacionalismo (chamemos-lhe antes proto-nacionalismo) brotou no Centro e Norte, antes do Sul. Nunca vi esta tese defendida pelas oficinas de História oficiais. O berço da resistência anti-portuguesa não é Gaza, como se convencionou oficialmente por razões que me parecem tribais, mas Angoche, onde, desde o tempo de Mogossurima, no século XVIII, até ao sultanato de Farley, já no limiar deste século, os sultões cotis, de origem quiloana, opuseram o Crescente à Cruz.”
Para mim foi um dos grandes privilégios da minha vida conviver com Aníbal Aleluia. A amizade partilhada com gente da estirpe da do Aníbal Aleluia. E não estou só. O Marcelo Panguana, num livro recente, Os Peregrinos da Palavra, que recolhe velhas entrevistas, ao falar do Aleluia releva o mesmo tipo de sentimento que eu tenho ao enunciar que “tive a honra de conviver com Aníbal Aleluia”, de quem escutava “palavras sábias.”
Marcelo Panguana: “Detentor duma invejável cultura geral, de extraordinária memória e um profundo domínio da língua portuguesa, adicionados à sua coragem e frontalidade, cedo se transformou numa incontornável referência nos meios literários.”
Revejo-me nas palavras do Marcelo: “Infelizmente somos pouco dados à evocação dos nossos mortos, mesmo quando possuem a grandeza que os diferencia dos simples mortais. E penso que será esta uma das razões pelas quais não somos capazes de aumentar os níveis da nossa moçambicanidade e enriquecer a nossa auto-estima. E o que se torna mais grave é a incapacidade de indicar às novas gerações as referências nacionais que escreveram, a seu modo, a história deste país. Aníbal Aleluia quase que deixou de fazer parte da nossa memória colectiva, tal como acontece com outras figuras que se tornaram célebres. Hoje, pouco se fala do poeta Rui Nogar. Recusamo-nos a reconhecer a importância de um Estêvão Macambaco na história da pintura moçambicana. Como alguém dizia, no nosso país, quando uma figura de destaque morre, morre de vez! De resto, incapazes de homenagear os vivos, como seríamos capazes de idolatrar os mortos?”
Quando, em 1984, surgiu a Charrua, fundada por um grupo de jovens irreverentes – Eduardo White, Armando Artur, Juvenal Bucuane, Ungulani Ba Ka Khosa, Hélder Muteia, Filimone Meigos, Marcelo Panguana, entre outros – Aníbal Aleluia haveria de participar activamente naquele projecto e abraçar o seu ideário. Ali estava ele, no meio daquela juventude: escreveu e publicou imenso na Charrua. O Aníbal tinha a juventude e a irreverência da nossa geração. Atrevo-me a dizer, não obstante, o facto de ele ser oriundo de outras décadas, que Aleluia pertencia à nova geração de escritores moçambicanos. Um outro testemunho, o de Ungulani Ba Ka Khosa, num texto do livro Cartas de Inhaminga, numa fabulosa evocação geracional, na qual honra a escrita do Eduardo White, fala de Aníbal Aleluia.
Ungulani Ba Ka Khosa: “Criámos uma revista, a CHARRUA, lutámos pelos nossos ideais literários, formámos uma malta maravilhosa que estendeu os laços de solidariedade até aos dias de hoje, com respeito às idiossincrasias de cada um: Juvenal Bucuane, Pedro Chissano, Aldino Muianga, Marcelo Panguana, Armando Artur, Hélder Muteia, Filimone Meigos, Tomás Vieira Mário, Ídasse Tembe, Nelson Saúte, Pinto de Abreu, o falecido Aníbal Aleluia, o também falecido amigo Ciprian Kwilimbe, e outros. Foi um período fecundo. A poesia, o lugar dos deuses no nosso panteão. E não foi por acaso que a colecção por nós criada na Associação dos Escritores Moçambicanos, a Colecção Início, teve como obra iniciática o Amar sobre o Índico, do Eduardo White. Em White, como dizíamos, nesses tempos de iniciação, estava o vulcão em permanente actividade. Dele são os versos: E hei-de ser o veneno/ o infame selvagem/ o duro seio das rochas/ e moldar no barro a pele que me acolhe.”
Ba Ka Khosa refere-se a factos de 1984. O Aldino Muianga era o mais velho entre nós e tinha 34 anos. O Juvenal Bucuane e o Marcelo Panguana tinham ambos 33 anos. O Pedro Chissano tinha 28 anos. O Ungulani, 27 anos. O Tomás Vieira Mºario estava com 25 anos, o Filimone 24, o Muteia 24, o Armando, 22, o White 21, o Pinto de Abreu 19 e eu, 17. Estávamos nos antípodas do sistema. Acreditávamos que a literatura era o lugar do questionamento, da indagação, da crítica. Por vezes, muitas vezes, éramos severos em relacção ao establishment. Éramos rebeldes. Aníbal Aleluia tinha 63 anos e estava connosco. Isso foi extraordinário. Pode atestar-se aqui a sua juventude. Nos nossos convívios, entre cerveja, coca-cola e muita zombaria, seja no bar da Cindoca, na cave, ou nos bancos do jardim, da AEMO, divertíamo-nos a caricaturar, afectuosamente, o recorte peculiar do português do nosso Mais Velho Aníbal Aleluia.  
Por vezes, perante aquela transbordante sabedoria, perguntava-lhe se não escreveria memórias. Admitia que sim. Mas também lembrava que a sua vida tinha sido marcada por dificuldades e que talvez “a leitura do meu testemunho acordaria em algumas pessoas recordações amargas.” E disse-me, na sequência disso, uma frase brutal: “Tenho um hábito que atrai empatias incómodas.” Dizia-o magoado, de certo modo, por se sentir incompreendido. Creio que ele morreu com essa mágoa. “Chamar as coisas pelos seus próprios nomes sem chamar nomes às pessoas.” Era isso o que ele dizia e praticava.
Em Fevereiro de 1989, fomos a Lisboa, a um congresso de escritores, ele partilhou comigo muita recordação da sua vida sofrida, das suas memórias magoadas, mas falou sempre com candura dos jovens que escreviam à época e foi gratificante ouvi-lo. Estava encantado com aquela viagem e um dia retornou ao hotel, exultante, depois de ter reencontrado Almeida Santos. No ano seguinte, fui-me embora daqui. Deixei de o ver. Continuei a lê-lo e a recordá-lo. Faleceu a 14 de Maio de 1993. À época redigi, para o Jornal de Letras, onde assentara arraiais, um “Elogio de Aníbal Aleluia”. Texto juvenil e ulcerado, comovido e agradecido. Como estou hoje e sempre.
Tenho-me recordado dele, amiúde. A sua bondade, a sua transbordante sabedoria, a sua cultura e a imensidão do seu carácter. O homem probo e generoso, que me aceitou, entre o fim da minha adolescência e o início da minha idade adulta, como seu igual, como seu par. Recordo-me das nossas intermináveis conversas. E estou grato a essa magnanimidade. A antiga Eduardo Noronha, no bairro da Coop, é agora Rua Aníbal Aleluia. Em tempos frequentei idilicamente aquela rua. Continuo a passar por lá. Ontem, divisando o nome na chapa da rua do meu bom amigo Aníbal Aleluia, inclinei ligeiramente a cabeça, em sua honra, agora que passam 25 anos sobre a sua morte, a quem faço esta humílima vénia aqui nestas páginas

segunda-feira, 7 de maio de 2018

SOCIEDADE

Maputo acolhe 1ª Conferência Económica da CPLP


Confederação Empresarial da CPLP, CE-CPLP, dirigida por Salimo Abdula, diz estar empenhada na criação de um Mercado onde seja mais Livre a Circulação de Pessoas, Bens, Capitais e Serviços entre os países da CPLP, daí ter agendando, para os dias 9 e 10 de Maio, a 1ª Conferência Económica do Mercado CPLP, em Maputo, diz a organização, em comunicado enviado à nossa redacção.
Num mercado que abrange quatro continentes, nove países membros e 10 países Observadores, a CE CPLP diz ainda acreditar que uma melhor circulação dentro do espaço CPLP irá contribuir, não só para um maior desenvolvimento dos seus países, como também para o despoletar de novas oportunidades de investimento e negócios.
Daí ter definido um programa, há três anos, para apoiar este novo e ambicioso projeto dos países de Língua Portuguesa. Reuniu grupos de trabalho, compostos pelas maiores Sociedades de Advogados destes países, responsáveis pela pesquisa e produção de conteúdos, assim como pela definição e priorização das etapas necessárias para a concretização deste grande objetivo.
Os resultados e conclusões deste importante trabalho serão apresentados na 1ª Conferência Económica do Mercado CPLP.
O evento, que vai contar com a presença de cerca de 4900 conferencistas, é organizado em parceria entre a CE CPLP e a CTA - Confederação das Associações Económicas de Moçambique.
Serão debatidos temas com foco na Mobilidade de Pessoas (vistos), na Mobilidade e Reciprocidade Profissional, na criação de um Tribunal de Arbitragem e Mediação da CPLP, das Convenções de Dupla Tributação e Proteção de Investimentos nos nove países, na Constituição de Empresas de Capital Estrangeiro nos países da CPLP, do Manual de Ética e Compliance das Empresas da CPLP

sexta-feira, 4 de maio de 2018

SOCIEDADE

Detidos nove indivíduos por prática de crimes em Inhambane


Nove indivíduos estão a contas com a Polícia da República de Moçambique, no Comando distrital de Morrumbene, em Inhambane, acusados de praticar diversos crimes. Assalto à mão armada, roubo de gado e agressão física são os crimes que pesam sobre os indiciados.
Dentre os jovens está um, considerado o mais perigoso, na posse de uma pistola do tipo brinquedo, com a qual perpetrava assaltos e até roubo de viaturas. O jovem nega ser assaltante, até a altura da sua detenção, mas revelou que já o fez no passado recente, na vizinha África do Sul.
Os acusados de roubar o gado bovino, para a posterior venda admitem o ter feito, com objectivo de obter dinheiro, para ajudar o dono, que se encontra detido, há mais de três semanas.
O comando provincial, através da sua porta-voz, diz que os detidos serão responsabilizados criminalmente, com vista a desencorajar actos que atentem contra a ordem, segurança e tranquilidade públicas.
Os crimes de agressão física e contra património são os mais comuns na província de Inhambane

POLÍTICA, SOCIEDADE

Morreu Afonso Dhlakama


líder da Renamo, Afonso Dhlakama, morreu, de acordo com a Sapo. Dhlakama deve ter morrido a bordo de um helicóptero que o tentava levar para um tratamento médico depois de uma grave crise diabética, segundo escreve o Público.
De nome completo Afonso Macacho Marceta Dhlakama, o líder da Renamo nasceu a 1 de Janeiro de 1953, em Mangunde, distrito de Chibabava em Sofala. É filho de um líder tradicional, o régulo Mangunde.
Dhlakama ingressou na FRELIMO em 1974, mas abandonou o Movimento em pouco tempo, tornando-se um dos fundadores da Resistência Nacional de Moçambique. Foi quando morreu André Matsangaíssa, em combate na Gorongosa, a 17 de Novembro de 1979, que Dhlakama tornou-se presidente do movimento tendo assumido as rédeas em 1980. Dhlakama assumiu assim a guerrilha com 27 anos de idade. Foi com a sua liderança que guerra civil, que durou 16 anos, se expandiu para todo o território nacional e desestruturando o país ao nível económico e social. O que levou o governo a negociar com o regime do Apartheid que financiava a Renamo um acordo de não agressão em 1984. No tal acordo o governo moçambicano deixaria de apoiar o ANC que lutava contra o então regime sul-africano, e este por sua vez a Renamo.  
Em finais da década de 80, Afonso Dhlakama dirige do lado da Renamo as negociações com o governo na altura liderado por Joaquim Chissano o Acordo de Paz, sob mediação da Igreja Católica em Roma, tendo como principal agenda a desmilitarização da Renamo e integração dos seus efectivos nas Forças de Defesa e Segurança Nacionais e a introdução do Multipartidarismo, um Estado de Direito Democrático em Moçambique e realização periódica de eleições. Após consensos, a 4 de Outubro de 1992 viria a assinar o acordo com o então presidente da República, Joaquim Chissano em Roma na Itália.
A partir daí, a RENAMO transformou-se num partido político, e Afonso Dhlakama de líder militar para líder político, tendo concorrido às primeiras eleições presidenciais em 1994, nas quais obteve cerca de 33% contra 50% de Chissano.
Nas eleições presidenciais de 1999, Afonso Dhlakama perdeu para Chissano. A margem foi bem menor. O líder da Renamo somou 47,71 % e o da Frelimo 52,29%. A Renamo contestou a validade destas eleições e, cerca de um ano depois, em novembro de 2000, houve violentas manifestações por todo o país, fomentadas pela Renamo. Dhlakama e Chissano tiveram que voltar às negociações para repor a normalidade no país.
Voltou a concorrer nas duas eleições seguintes e perdeu para Armando Guebuza em 2004 e 2009 respectivamente.
Afonso Dhlakama decidiu em 2010 abandonar a capital do país, onde residia desde 1992 e fixa residência em Nampula.  Após um diálogo fracassado com o Armando Guebuza, então presidente, o governo enviou forças militares e paramilitares para as proximidades da sua residência, na cidade de Nampula. Este e outros acontecimentos levaram a que o líder da RENAMO abandonasse mais uma vez a sua residência na cidade de Nampula, tendo-se dirigido para o antigo quartel-general da Renamo, no povoado de Sathundjira, localidade de Vunduzi, distrito de Gorongosa, na província de Sofala.
A partir de lá dirige um novo confronto militar com as forças governamentais que inicia em 2013 com ataque a um posto policial em Muxúnguè após tentativa de dispersão dos seus antigos militares que estavam estacionados na delegação local da Renamo. Em resposta o forças governamentais atacaram o local onde vivia Afonso Dhlakama e o mesma escapa ileso.
Depois de difíceis negociações, assinou um novo Acordo de Paz com o então Presidente da República, Armando Guebuza a 5 de Setembro de 2014 que viabilizou a sua participação nas eleições de 2014. Tendo-as perdido para o acual presidente Filipe Nyusi. E mais uma vez não reconheceu os resultados e percorreu o país mobilizando seus membros a também não faze-lo ameaçando tomar o poder a força.
Em virtude dessa situação reuniu-se com Filipe Nyusi por duas ocasiões em Fevereiro de 2015 para tentar pôr termo à crise política. Mas sem efeito.
Como consequência, o líder da Renamo sofreu três atentados contra a sua vida. A primeira tentativa de assassinar Afonso Dhlakama aconteceu no início da noite de 12 de Setembro de 2015, quando uma caravana de automóveis em que seguia foi atacada na província de Manica, ao que tudo indica por homens das forças de defesa e segurança de Moçambique. Registaram-se cinco feridos, mas o líder da oposição saiu ileso. No dia 25 de Setembro de 2015, o líder da Renamo escapou ileso a um novo ataque em menos de duas semanas na província de Manica. E refugia-se nas matas.
Após negociações com o governo, aceita sair das matas no dia 8 de Outubro e dirige-se para cidade da Beira. Na manhã do seguinte, 9 de Outubro de 2015, a polícia cerca a sua residência na Beira e desarma seus seguranças. E a polícia chamou a operação como início do desarmamento coercivo dos Homens Armados da Renamo. Entretanto, dias depois Dhlakama consegue fugir da sua residência na Beira e refugia-se nas matas da serra da Gorongosa e retoma ataques militares extendendo para além do troço da EN1 entre rio Save e Muxúnguè e Nhamapaza- Caia e da EN7 entre Vanduzi e Rio Luenha.
Para pôr termo ao conflito, o Presidente da República Filipe Nyusi iniciou conversações com Dhlakama por via telefone que permitiu o estabelecimento de tréguas e o fim das hostilidades militares. Filipe Nyusi dirigiu-se por três vezes a Gorongosa para reunir-se com Afonso Dhlakama e duas foram com sucesso. Recentemente os dois líderes acordaram um Pacote Descentralização que foi depositado na Assembleia da República e aguarda a sua aprovação. E neste momento estavam a negociar a desmobilização e integração dos homens da Renamo nas Forças de Defesa e Segurança. Dhlakama aguardava o fim das negociações para sair das matas. Afonso Dhlakama deixa viúva e oito filhos.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

SOCIEDADE

Moçambique cai seis posições no ranking da Liberdade de imprensa



No dia em que se comemora o dia Mundial da Liberdade de Imprensa, Governo, gestores das empresas de media, sociedade civil e outros, reuniram-se em Maputo, para reflectir sobre a temática no país.
No evento, o Presidente do Misa considerou que o facto de o país ter caído seis posições no ranking do estado da liberdade de imprensa significa que as condições para o seu exercício, no país, baixaram. Agora Moçambique está na posição 93, quando ano passado estava no lugar 83 de 106 países analisados.
Por sua vez, o Sindicato Nacional de Jornalistas mostrou se preocupado com a violação dos seus direitos em exercício da sua actividade e os perpetradores dessas violações sempre ficam impunes.
Já o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, em nome do Governo, repudia todo tipo de violência contra jornalistas e promete de tudo fazer para esclarecer casos já que violem as liberdades dos jornalistas.
O dia Mundial da Liberdade de Imprensa em Moçambique comemora se sob o lema “Mantendo vigilância sobre o poder: A Imprensa, Justiça e Estado de Direito

POLÍTICA

PR reconhece que aumento salarial na função pública é pouco



Na visita à província de Maputo, o Presidente da República escalou o Município da Matola onde dirigiu um comício popular no bairro de Intaka.
Na ocasião, entre vários assuntos de que o Chefe de Estado falou, o reajuste do salário mínimo, principalmente na função pública, foi abordado. Filipe Nyusi disse que o Governo está consciente de que o aumento salarial na função pública é pouco, mas diz ser a capacidade que o Estado tem para continuar a pagar salários.
Filipe Nyusi recordou igualmente que o subsídio de funeral foi revisto, tendo aumentado a quase 100%. Mas considera que o mais importante é que este ano, o Estado vai retomar as promoções e progressões de carreiras a favor dos funcionários e que estavam congeladas desde 2015. E isso vai significar melhoria das condições salariais dos beneficiários.
O Chefe de Estado mostrou-se agastado pelo facto de cidadãos em idade eleitoral na província de Maputo não estarem a aderir ao recenseamento eleitoral. Até quarta-feira, a província tinha recenseado menos de 40% de eleitores.
Nyusi quer ainda o combate cerrado à criminalidade, roubo de gado e sequestros na província de Maputo e pede à população para ser cada vez mais vigilante.
Ainda na Matola, o Presidente visitou machambas, uma fábrica de óleo e sabão e almoçou com empresários.

ECONOMIA



400 trabalhadores podem ser dispensados da EDM


Cerca de quatro centenas de trabalhadores da empresa Electricidade de Moçambique (EDM) poderão ser dispensados  no âmbito das reformas em curso desde 2015. Fátima Arthur, Administradora do Pessoal e dos Serviços Corporativos, disse que o processo de mapeamento e selecção já foi concluído e os visados notificados.
É uma medida justificada pelas reformas em curso na empresa, visando torna-la mais sustentável e moderna, e que começou com a criação do novo Conselho de Administração, em 2015. Fátima Artur, Administradora do Pessoal e dos Serviços Corporativos, disse, hoje, durante uma mesa redonda com jornalistas na capital do país, que a empresa pretende entre outras coisas reduzir os custos com o pessoal, e começou mesmo pelos próprios executivos da empresa, tendo sido reduzidos de 75 para 35. Uma medida justificada pela necessidade de centralizar as actividades e flexibilizar os processos de tomada de decisão, melhorando, consequentemente, a prestação de serviços da EDM.
O mesmo aconteceu a nível de gestores de base como chefes de departamentos, que passaram de 620 para 85. A nível dos trabalhadores, a empresa conta actualmente com 3.545 e pretende reduzir para 3.148. A Administradora do Pessoal e Serviços Corporativos disse que das reformas feitas consta a reintegração de trabalhadores noutros sectores, a extinção de algumas unidades e a criação de novas o que vai exigir novas habilidades aos funcionários.
Artur disse que tudo começou com um convite aos trabalhadores para que cada um indicasse em que sector gostaria de trabalhar ou sentia que tinha as capacidades necessárias para serem enquadrados. Artur disse ainda que o processo de selecção foi demorado e feito em várias fases, por vários gestores e sempre com os pareceres do sindicato, até se chegar à conclusão sobre quem era realmente necessário na empresa e em que sector.
Existem porém os que devido a sua idade, reencaminha-los para novas formações não seria um investimento bom para a empresa e por isso seriam reformados. Aos que tiverem mais de 25 anos de serviço, a empresa decidiu atribuir uma reforma completa, ou seja como se tivessem completado os 35 anos de serviço exigidos por lei. “Identificamos um grupo de trabalhadores que neste momento não tem lugar na estrutura ou porque estão próximos da reforma, portanto não faz sentido investir em termos de formação ou porque não tem capacidade para fazer os trabalhos necessários na nova estrutura” clarificou.
A administradora disse também que para os que não têm enquadramento na empresa e nem podem ter direito a reforma por estarem há pouco tempo na empresa, o Conselho de Administração ainda está à procura de formas de não deixá-los prejudicados.
Fátima Artur diz que neste momento vai se implementar o mapeamento feito que não irá afectar apenas os que ficarão fora da empresa como os que vão ficar, pois casos há, de pessoas que vão ter de mudar de actividades ou passar a trabalhar em unidades que não serão aquelas a que estão habituadas.

Economia

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